tag:blogger.com,1999:blog-77376080874840881482024-03-13T09:44:01.215-07:00Repouso da Alma"...Se dirá que as estrelas gargalham,
E no entanto o universo está surdo. "
(Boris Pasternak)Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.comBlogger205125tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-81517579970266623932011-05-03T17:32:00.000-07:002011-05-03T17:34:05.580-07:00Lirinha declamando "O guarda abilolado"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/EwFYVRiAasM?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>Uma homenagem ao Poeta Chico Pedrosa e a Lirinha...<br />
<br />
Como diz André ( e eu assino embaixo!)<br />
Não era pro Cordel ter acabado... :(<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-52573206104061248512011-05-03T17:03:00.000-07:002011-05-03T17:03:23.058-07:00O Guarda Abilolado<img height="207" id="il_fi" sb_id="ms__id9447" src="http://www.estacoesferroviarias.com.br/paraiba/fotos/sape.jpg" style="padding-bottom: 8px; padding-right: 8px; padding-top: 8px;" width="320" /><br />
Doutor, eu tento razão,<br />
De ser abilolado,<br />
Venho do tempo marcado<br />
Por seca e revolução.<br />
Quando eu tinha ano e meio,<br />
Escapei de um tiroteio,<br />
De meu pai, na bolandeira.<br />
Se meu pai ganhou, eu não sei<br />
E também nunca perguntei,<br />
Nem, sequer, por brincadeira.<br />
Vim conhecer a cidade,<br />
Quando votei pra prefeito<br />
E, por sinal, ele foi eleito,<br />
E, para minha felicidade,<br />
Ele me deu um emprego:<br />
Me entregou uma farda,<br />
Um capote, um coturno,<br />
Um capacete envernizado,<br />
Um apito enferrujado,<br />
Eu fui ser guarda noturno.<br />
Passeava as noites inteiras,<br />
Apitando na cidade,<br />
Escola, igreja, cinema,<br />
Mercado e maternidade.<br />
Nas noites frias do inverno,<br />
Eu usava um velho terno,<br />
Umas meias de crochê,<br />
Bebia quatro cachaças,<br />
Dava três voltas na praça<br />
E corria pro cabaré.<br />
Lá existia de tudo:<br />
Discursão, briga, lorota,<br />
Um contava aventura,<br />
Outro pagava uma meiota;<br />
Quando um bêbado se zangava,<br />
Eu ia lá e ajeitava.<br />
O bêbado ficava manso,<br />
Pagava pra mim uma bebida<br />
Eu dava um apito e saía,<br />
Na velha ginga de ganso.<br />
Até que um dia o prefeito,<br />
Fez uma reunião<br />
E nela perguntou aos guardas:<br />
- Querem aumento ou promoção?<br />
Antes de fechar a boca,<br />
Eu gritei com voz rouca:<br />
- Quero promoção seu Zé!<br />
Disse ele ta garantido,<br />
Aprovado e promovido,<br />
No maior posto que houver.<br />
Me deu uma farda nova, florada,<br />
Quem nem chita enfeitada,<br />
De galão, estrela, medalha e fita,<br />
Broche, botão e alfinete;<br />
Trocou meu velho cacetete<br />
Por um novo profissional,<br />
E me disse: de hoje em diante,<br />
Você é comandante,<br />
De Guarda Municipal.<br />
Pois três meses depois,<br />
Veio a guerra mundial<br />
E, nesse tempo, uma irmã minha<br />
Tava morando em Natal.<br />
Eu fui visitá-la;<br />
Botei a farda na mala,<br />
Passei o cargo a Raimundo<br />
Que era quase um irmão.<br />
Peguei o trem na estação,<br />
E me intupigaitei no mundo.<br />
Que lugar longe da gota.<br />
Quase o trem não chegava mais;<br />
Tinha hora que pensava<br />
Que ele tava andando pra trás.<br />
Entre solavancos e berros,<br />
O velho embuá de ferro,<br />
Viajou a noite inteira,<br />
E de manhã cedo, chegou<br />
Deu um apito e parou<br />
Na estação da Ribeira.<br />
Desembarquei e fiquei<br />
Perdido na multidão.<br />
Quando eu puxava uma conversa<br />
Ninguém me dava atenção.<br />
Quando mais bom dia dava,<br />
Mais o povo se abusava,<br />
Talvez me achando chato.<br />
Era um povo diferente,<br />
Da qualidade da gente,<br />
Das cidadinhas do mato.<br />
Perguntei a mais de mil,<br />
Se eles davam notícia<br />
De Carmelita de Sousa,<br />
Uma cabocla mestiça,<br />
Mulher do guarda Pompeu,<br />
Mais morena do que eu<br />
E de cabelo meio ruim,<br />
Que morava na Ari Parreira,<br />
Que fica perto da feira<br />
No bairro do Alecrim.<br />
Depois de tanta pergunta,<br />
Depois de ouvir tanto não,<br />
Me apareceu carmelita,<br />
No pátio da Estação,<br />
Toda cheia de finesses,<br />
Puxando nos Rs e Ss<br />
Que nem mulher de doutor,<br />
Nem parecia a matuta,<br />
Que lavrou a terra bruta,<br />
No Sertão do interior.<br />
Mesmo assim me recebeu,<br />
Na sua casa modesta,<br />
Os primeiros cinco dias,<br />
Para nós foram de festa.<br />
Quando o sexto dia veio,<br />
Resolvi dar um passeio.<br />
Mandei engomar a farda,<br />
Me banhei, tirei o grude,<br />
Me preparei como pude,<br />
Para ter um dia de glória.<br />
Passei o resto da tarde,<br />
Sentado num tamborete,<br />
Pregando estrelas, galões,<br />
Broche, alfinete, botões,<br />
Comprei mais uns acessórios,<br />
Enfeitei o suspensório,<br />
Feito de sola curtida.<br />
De manhã cedo me vesti,<br />
Tomei café e sai,<br />
Dando risada da vida.<br />
Na praça Gentil Ferreira,<br />
Onde tinha um mercado,<br />
Eu parei para tomar fôlego,<br />
Quando passava um soldado<br />
E fez continência para mim.<br />
Eu fiquei pensando assim:<br />
Que danado ele viu neu,<br />
Na certa ta me confundindo,<br />
Ou me achando parecido,<br />
Com algum colega seu.<br />
E haja passar soldado,<br />
Fazendo assim com a mão.<br />
Daqui a pouco era sargento,<br />
Coronel, capitão, cabo,<br />
Tenente, major<br />
E todo o estado maior,<br />
Dos quartéis da redondeza<br />
Cumprimentavam-me ali<br />
Até hoje nunca vi<br />
Tamanha delicadeza.<br />
Desfilaram tanques de guerra,<br />
Aviões em vôo rasantes,<br />
Sirenes tocaram mais fortes,<br />
Canhões dispararam distantes.<br />
Um praça do Coronel,<br />
Puxou do bolso um papel,<br />
Onde tinha um letreiro<br />
Que dizia: - Nossa terra<br />
Tem um espião de guerra,<br />
Que chegou do estrangeiro.<br />
Não quis falar com ninguém,<br />
Não pergunta e nem responde,<br />
Ninguém sabe de onde vem,<br />
Ninguém sabe onde se esconde.<br />
A sua farda é de cor de ameixa,<br />
A impressão que nos deixa,<br />
É que é um grande guerreiro,<br />
Filho de outra nação,<br />
Ou um perigoso espião,<br />
Das guerras do estrangeiro.<br />
Vamos levá-lo ao quartel,<br />
Para uma averiguação,<br />
Pois precisamos saber,<br />
De onde veio esse espião.<br />
Em seguida me levaram<br />
Ao quartel e me entregaram<br />
Ao Comandante Geral<br />
Que, quando me viu fardado,<br />
Perguntou meio assustado:<br />
- Que ta fazendo em Natal?<br />
Donde diabo é essa farda?<br />
Faça o favor de informar,<br />
E como se chama a nação<br />
Que usa uniforme diferente?<br />
E quem lhe deu tanta patente?<br />
A troco não sei de que.<br />
E porque Vossa Excelência<br />
Não responde as continências,<br />
Afinal, quem é você?<br />
Coronel, eu sou Zé Carrapeta,<br />
Sou filho do Cariri.<br />
Não sei fazer continência,<br />
Pra gente que nunca vi.<br />
Porém, nunca fui intruso<br />
E, acredite, eu só uso<br />
Esse quepe de biriba,<br />
Essa farda e esse coturno,<br />
Porque sou Guarda Noturno,<br />
Em Sapé, na Paraíba.<br />
<br />
<br />
<br />
CHICO PEDROSA<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-12007722837931194072010-10-22T17:37:00.000-07:002010-10-22T17:37:08.478-07:00Um cinturãoAs minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural.<br />
<br />
Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com urna corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal - e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do cinturão, que veio pouco depois, avivou-a.<br />
<br />
Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras.<br />
<br />
Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé de turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente e me livrassem daquele perigo.<br />
<br />
Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os ,sons duros morriam, desprovidos de significação.<br />
<br />
Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui sacudido. O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.<br />
<br />
Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as conseqüências delas me acompanharam.<br />
<br />
O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de semelhante maneira.<br />
<br />
Onde estava o cinturão? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro.<br />
<br />
Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo.<br />
<br />
A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido, movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes, mas não se tratava disso. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal.<br />
<br />
Minha mãe, José Baía, Amaro, sinhá Leopoldina, o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos - e, nesse zunzum, a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormir muito, atrás dos caixões, livre do martírio.<br />
<br />
Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobre-diabo.<br />
<br />
Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo, recordo-me de cemitérios e de ruínas mal-assombradas. Cerravam-se as portas e as janelas, do teto negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a aprendizagem dolorosa.<br />
<br />
Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala como carrapeta eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me, num desespero.<br />
<br />
O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível.<br />
<br />
Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.<br />
<br />
Pareceu-me que a figura imponente minguava - e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.<br />
<br />
Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.<br />
<br />
Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
(“Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”)<br />
<br />
Graciliano Ramos<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-29868186426234887412010-10-12T08:04:00.000-07:002010-10-12T08:04:03.129-07:00As mortes sucessivas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihVIVfY66AJkfHIJpBCdQM2sHZtPg6Xz_Lv5jo78tohfG8RGe18nFkupB91jD6K6B3pAAU12nbHLBb0NAGfdasj0itJCTqnR91Y86fQKJyRrPrt9wNMk-mvJ-tEoziUQVf4WDHmxHJ5MQ/s1600/a+morte_foto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihVIVfY66AJkfHIJpBCdQM2sHZtPg6Xz_Lv5jo78tohfG8RGe18nFkupB91jD6K6B3pAAU12nbHLBb0NAGfdasj0itJCTqnR91Y86fQKJyRrPrt9wNMk-mvJ-tEoziUQVf4WDHmxHJ5MQ/s320/a+morte_foto.jpg" width="320" /></a></div><br />
Quando minha irmã morreu eu chorei muito<br />
e me consolei depressa. Tinha um vestido novo<br />
e moitas no quintas onde eu ia existir.<br />
Quando minha mãe morreu, me consolei mais lento.<br />
Tinha uma perturbação recém-achada:<br />
meus seios conformavam dois montículos<br />
e eu fiquei muito nua.<br />
Cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.<br />
Quando meu pai morreu eu nunca mais me consolei.<br />
Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,<br />
parentes, que me lembrassem sua fala,<br />
seu modo de apertar os lábios e ter certeza.<br />
Reproduzi o encolhido do seu corpo<br />
em seu último sono e repeti as palavras<br />
que ele disse quando toquei seus pés:<br />
"Deixa, tá bom assim".<br />
Quem me consolará dessa lembrança?<br />
Meus seios se cumpriram<br />
e as moitas onde existo<br />
são pura sarça ardente de memória"<br />
<br />
<br />
(Adélia Prado)<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-73220720005226887022010-03-27T21:10:00.001-07:002010-03-27T21:11:15.574-07:00As seis cordas<p align="center"><span style="color: rgb(186, 35, 27);font-family:Arial;font-size:130%;" ><br /></span></p> <p align="right"><span style=";font-family:Arial;font-size:100%;" ><b>Federico Garcia Lorca</b></span></p> <p style="line-height: 150%;" align="justify"><span style=";font-family:Verdana;font-size:85%;" ><br /> A guitarra<br /> faz soluçar os sonhos.<br /> O soluço das almas<br /> perdidas<br /> foge por sua boca<br /> redonda.<br /> E, assim como a tarântula,<br /> tece uma grande estrela<br /> para caçar suspiros<br /> que bóiam no seu negro<br /> abismo de madeira.</span></p> <p style="line-height: 150%;" align="center"><span style="font-family:Arial;font-size:100%;"><b>Federico Garcia Lorca</b></span></p><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-16987544370556501502010-03-27T21:05:00.000-07:002010-03-27T21:07:23.475-07:00Poema V<blockquote> <p align="center"><span style="font-family:Arial;font-size:130%;color:#ba231b;"><br /></span></p> </blockquote> <p align="right"><strong><span style="font-family:Arial;font-size:100%;color:#000000;">Hilda Hilst<br /> </span></strong><br /> <span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"><i>A Federico García Lorca</i></span></p><p align="right"><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"><i><br /></i></span></p><p align="right"><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"><i><br /></i></span></p><p align="right"><img alt="http://www.icicom.up.pt/blog/muitaletra/arquivos/Lorca2.jpg" src="http://www.icicom.up.pt/blog/muitaletra/arquivos/Lorca2.jpg" /><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"><i> </i></span></p> <p style="line-height: 150%;"><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"><br /> Companheiro, morto desassombrado, rosácea ensolarada<br /> quem senão eu, te cantará primeiro. Quem senão eu<br /> pontilhada de chagas, eu que tanto te amei, eu<br /> que bebi na tua boca a fúria de umas águas<br /> eu, que mastiguei tuas conquistas e que depois chorei<br /> porque dizias: “<i>amor de mis entrañas, viva muerte</i>”.<br /> Ah! Se soubesses como ficou difícil a Poesia.<br /> Triste garganta o nosso tempo, TRISTE TRISTE.<br /> E mais um tempo, nem será lícito ao poeta ter memória<br /> e cantar de repente: <i>“os arados van e vên<br /> dende a Santiago a Belén”.</i><br /> <br /> Os cardos, companheiro, a aspereza, o luto<br /> a tua morte outra vez, a nossa morte, assim o mundo:<br /> deglutindo a palavra cada vez e cada vez mais fundo.<br /> Que dor de te saber tão morto. Alguns dirão:<br /> Mas se está vivo, não vês? Está vivo! Se todos o celebram<br /> Se tu cantas! ESTÁS MORTO. Sabes por quê?<br /> <br /> <i>“El passado se pone<br /> su coraza de hierro<br /> y tapa sus oídos<br /> con algodón del viento.<br /> Nunca podrá arrancársele<br /> un secreto.”</i><br /> <br /> E o futuro é de sangue, de aço, de vaidade. E vermelhos<br /> azuis, braços e amarelos hão de gritar: morte aos poetas!<br /> Morte a todos aqueles de lúcidas artérias, tatuados<br /> de infância, de plexo aberto, exposto aos lobos. Irmão.<br /> Companheiro. Que dor de te saber tão morto.</span></p><p style="line-height: 150%;"><br /></p><p style="line-height: 150%;"><br /></p><p style="line-height: 150%;"><span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"><br /></span></p> <span style="font-family:Verdana;font-size:85%;"><br /> <i>O poema acima foi publicado no livro "Poemas aos homens de nosso tempo”, Ed. Globo, São Paulo - 2003, pág. 109.</i></span><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-13313380391182102112010-03-26T14:39:00.001-07:002010-03-26T14:39:50.897-07:00DesencontráriosMandei a palavra rimar,<br />ela não me obedeceu.<br />Falou em mar, em céu, em rosa,<br />em grego, em silêncio, em prosa.<br />Parecia fora de si,<br />a sílaba silenciosa.<br /><br />Mandei a frase sonhar,<br />e ela se foi num labirinto.<br />Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.<br />Dar ordens a um exército,<br />para conquistar um império extinto.<br /><br /><br /><br /><br />Paulo Leminski<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-75542590874636087582010-03-25T17:24:00.000-07:002010-03-25T17:35:44.906-07:00Esconderijo<img alt="http://3.bp.blogspot.com/_LVgDSulYCIg/SG_2X3difjI/AAAAAAAABCs/yVHTQkTD25g/s400/Esconderijo.jpg" src="http://3.bp.blogspot.com/_LVgDSulYCIg/SG_2X3difjI/AAAAAAAABCs/yVHTQkTD25g/s400/Esconderijo.jpg" /><br /><strong></strong><span style="font-size:130%;"><br /><br /></span><span style=";font-family:Garamond;font-size:130%;" >Há um menino por baixo das coisas,<br />Por tão dentro assim que se diz âmago.<br />Ali, no mais distante e só do nosso ser,<br />Onde não acontecem palavras nem sol.<br />Ele vive de roer umas migalhas de vida,<br />Sob o regime vigilante do bom senso...<br /><br />Às vezes joga verdades pela nossa boca,<br />Mas logo rejeitado retorna para sua cela.<br />Está sempre sozinho, ausente das horas,<br />Com destino de eterno breu e silêncio.<br />Lá não há escada que facilite sua fuga,<br />Nem verdades que clareiem o caminho.<br /><br />Esse menino levaremos calado até o fim,<br />Para que vençam nossas meias-verdades,<br />E façam de nós homens que não fomos,<br />E sagrem mulheres que jamais existiram,<br />E que assim a estrada de viver siga planos,<br />E a sociedade não seja afetada pelo real.<br /><br />Esse garoto e sua bandeira pequenina,<br />Assim guardado talvez seja o único jeito<br />De manter no caminho a raça humana;<br />Driblando verdades, maquiando desejos.<br />Que durma pois nosso menino em sigilo,<br />Deixado para um acaso qualquer adiante.<br /><br />Hoje não, que viver ainda é de disfarces,<br />Um contrato assinado antes de nascermos:<br />Por um quase-caminho vai uma quase-vida;<br />Um seguir de regras sumariamente prontas.<br />É só viver do tamanho que morre o âmago,<br />E agendar para outra vez o que silencia.</span><span style="font-size:130%;"><br /><br /></span><span style=";font-family:Garamond;font-size:100%;" ><strong><span style="font-size:130%;">Ricardo Fabião<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Achei a imagem <a href="http://juniorkruger.blogspot.com/2009/08/esconderijo.html"> AQUI</a></span><br /></strong></span><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-66512550527411143322010-01-28T17:51:00.000-08:002010-01-28T17:53:51.379-08:00Poema pouco original do medo<b><span id="ctl00_ContentPlaceHolder1_DetailsTitulo"></span></b> <img alt="http://byfiles.storage.live.com/y1phhya6fxMvgS9F74Ge5xzJb-EDd0CasaY5JQGmC38QFUTgO2TQy51CZthY9vmxrVofubpIUZHzv8" src="http://byfiles.storage.live.com/y1phhya6fxMvgS9F74Ge5xzJb-EDd0CasaY5JQGmC38QFUTgO2TQy51CZthY9vmxrVofubpIUZHzv8" /><br /><span id="ctl00_ContentPlaceHolder1_DetailsPoema"><br /><br /><br />O medo vai ter tudo<br />pernas<br />ambulâncias<br />e o luxo blindado<br />de alguns automóveis<br />Vai ter olhos onde ninguém o veja<br />mãozinhas cautelosas<br />enredos quase inocentes<br />ouvidos não só nas paredes<br />mas também no chão<br />no teto<br />no murmúrio dos esgotos<br />e talvez até (cautela!)<br />ouvidos nos teus ouvidos<br /><br />O medo vai ter tudo<br />fantasmas na ópera<br />sessões contínuas de espiritismo<br />milagres<br />cortejos<br />frases corajosas<br />meninas exemplares<br />seguras casas de penhor<br />maliciosas casas de passe<br />conferências várias<br />congressos muitos<br />ótimos empregos<br />poemas originais<br />e poemas como este<br />projetos altamente porcos<br />heróis<br />(o medo vai ter heróis!)<br />costureiras reais e irreais<br />operários<br />(assim assim)<br />escriturários<br />(muitos)<br />intelectuais<br />(o que se sabe)<br />a tua voz talvez<br />talvez a minha<br />com a certeza a deles<br /><br />Vai ter capitais<br />países<br />suspeitas como toda a gente<br />muitíssimos amigos<br />beijos<br />namorados esverdeados<br />amantes silenciosos<br />ardentes<br />e angustiados<br /><br />Ah o medo vai ter tudo<br />tudo<br />(Penso no que o medo vai ter<br />e tenho medo<br />que é justamente<br />o que o medo quer)<br /><br />O medo vai ter tudo<br />quase tudo<br />e cada um por seu caminho<br />havemos todos de chegar<br />quase todos<br />a ratos<br /><br /><br /><br /><br /></span>Alexandre O'Neill<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-76477753714543236592010-01-28T17:05:00.000-08:002010-01-28T17:07:46.025-08:00A meu favor<img alt="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7ggeBE5xI56BfNfrbCNK0d-6HbZK0smABma7zjFjBl2ovYMXVOVdcvPm55UmDR-GiI0kSa4EU8lW_WvrHach2cRXSTF4sH7d2Kj8-lb-wp0oyBhs8cVE0B01C-OYjIR52n17A9kbu6r0/s400/verdes.psd.jpg" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7ggeBE5xI56BfNfrbCNK0d-6HbZK0smABma7zjFjBl2ovYMXVOVdcvPm55UmDR-GiI0kSa4EU8lW_WvrHach2cRXSTF4sH7d2Kj8-lb-wp0oyBhs8cVE0B01C-OYjIR52n17A9kbu6r0/s400/verdes.psd.jpg" /><br /><span style="font-size:100%;"><br />A meu favor<br />Tenho o verde secreto dos teus olhos<br />Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor<br />O tapete que vai partir para o infinito<br />Esta noite ou uma noite qualquer<br /><br />A meu favor<br />As paredes que insultam devagar<br />Certo refúgio acima do murmúrio<br />Que da vida corrente teime em vir<br />O barco escondido pela folhagem<br />O jardim onde a aventura recomeça.<br /><br /><br /><br /></span><table><tbody><tr><td><br /></td> <td><span style="font-family:Lucida Calligraphy;font-size:180%;">Alexandre O'Neill</span></td></tr></tbody></table><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-47058584217768081242009-10-03T06:03:00.001-07:002010-03-01T05:50:01.198-08:00Ismália<div style=";font-family:Georgia,";"><span style="color: rgb(186, 35, 27);font-size:small;" ><br /></span> <br /></div><div class="separator" style="clear: both;font-family:Georgia,";"><span style="font-size:small;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhejKVdyDYi2UEdgAIMHcWkJjnRXA6ua-Y4sx9geJ8AEhpFnktB6yUAmwtebtbXqhtfRwdnaEgYJTun22RcspJX6ZDJtxhNfEKI5yeHwks3UgeW4jFSfn9IqGnkyldSGGIxTNRg0M7jHmB_/s1600/Ism%C3%A1lia.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"> <img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhejKVdyDYi2UEdgAIMHcWkJjnRXA6ua-Y4sx9geJ8AEhpFnktB6yUAmwtebtbXqhtfRwdnaEgYJTun22RcspJX6ZDJtxhNfEKI5yeHwks3UgeW4jFSfn9IqGnkyldSGGIxTNRg0M7jHmB_/s320/Ism%C3%A1lia.JPG" border="0" /></a></span><br /></div><div class="separator" style="clear: both;font-family:Georgia,";"><span style="font-size:small;"><br /></span><br /></div><div style=";font-family:Georgia,";" align="right"><span style="font-size:small;"><b>Alphonsus de Guimaraens</b></span><br /></div><blockquote style=";font-family:Georgia,";"><blockquote><blockquote><div align="justify"><span style="font-size:small;"><br />Quando Ismália enlouqueceu,<br />Pôs-se na torre a sonhar...<br />Viu uma lua no céu,<br />Viu outra lua no mar.<br /><br />No sonho em que se perdeu,<br />Banhou-se toda em luar...<br />Queria subir ao céu,<br />Queria descer ao mar...<br /><br />E, no desvario seu,<br />Na torre pôs-se a cantar...<br />Estava perto do céu,<br />Estava longe do mar...<br /><br />E como um anjo pendeu<br />As asas para voar...<br />Queria a lua do céu,<br />Queria a lua do mar...<br /><br />As asas que Deus lhe deu<br />Ruflaram de par em par...<br />Sua alma subiu ao céu,<br />Seu corpo desceu ao mar...</span><br /><br /><br />(Alphonsus de Guimaraens)<br /><br /><br /><br /><br /><br />Imagem da Ângela<br /></div></blockquote></blockquote></blockquote><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-87088653855264302122009-10-01T20:05:00.000-07:002009-10-03T06:16:07.127-07:00Se eu fosse um padre .<br />
<div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,<br />
</div><div style="text-align: center;">não falaria em Deus nem no Pecado<br />
</div><div style="text-align: center;">– muito menos no Anjo Rebelado<br />
</div><div style="text-align: center;">e os encantos das suas seduções,não citaria santos e profetas:<br />
</div><div style="text-align: center;">nada das suas celestiais promessas<br />
</div><div style="text-align: center;">ou das suas terríveis maldições...<br />
</div><div style="text-align: center;">Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,<br />
</div><div style="text-align: center;">Rezaria seus versos, os mais belos,<br />
</div><div style="text-align: center;">desses que desde a infância me embalaram<br />
</div><div style="text-align: center;">e quem me dera que alguns fossem meus!<br />
</div><div style="text-align: center;">Porque a poesia purifica a alma<br />
</div><div style="text-align: center;">...e um belo poema – ainda que de Deus se aparte –<br />
</div><div style="text-align: center;">um belo poema sempre leva a Deus!”<br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Mario Quintana<br />
</div><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-68225548683911866412009-10-01T19:56:00.000-07:002009-10-01T19:58:11.044-07:00Leitura<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfmrMUiK8JzhC5LJg0_j9AGJsrUEu7wgZ45PpaF82MBqYeUvqyXUiZPy2AD-f73l70mlGI0gAuEazYI_ddVf7Ai-Apdh2ld3mgn56LAzWQfnQb8rhGeOuMN2_tm-CZKImDjyEwojqgbYB9/s1600-h/3807388.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfmrMUiK8JzhC5LJg0_j9AGJsrUEu7wgZ45PpaF82MBqYeUvqyXUiZPy2AD-f73l70mlGI0gAuEazYI_ddVf7Ai-Apdh2ld3mgn56LAzWQfnQb8rhGeOuMN2_tm-CZKImDjyEwojqgbYB9/s320/3807388.jpg" /></a><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;"><b><span style="font-weight: normal;">“Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras.</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">fora do seu tempo desejadas.</span></b></span><br />
</div><div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;"><b><span style="font-weight: normal;"> </span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">Ao longo do muro eram talhas de barro.</span></b></span><br />
</div><div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;"><b><span style="font-weight: normal;"> </span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">que lá fora o mundo havia parado de calor.</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">Depois encontrei meu pai, que me fez festa</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">os lábios de novo e a cara circulados de sangue,</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">caçava o que fazer pra gastar sua alegria:</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">onde está meu formão, minha vara de pescar,</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">cadê minha binga, meu vidro de café?</span></b></span><br />
</div><div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;"><b><span style="font-weight: normal;"> </span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">Eu sempre sonho que uma coisa gera,</span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">nunca nada está morto.</span></b></span><br />
</div><div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;"><b><span style="font-weight: normal;"> </span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">O que não parece vivo, aduba.</span></b></span><br />
</div><div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;"><b><span style="font-weight: normal;"> </span><br style="font-weight: normal;" /><span style="font-weight: normal;">O que parece estático, espera.”</span></b></span><br />
</div><div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span><br />
</div><div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span><br />
</div><div style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span><br />
</div><span style="font-family: Trebuchet MS; font-size: x-small;"><b><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; font-size: small; font-weight: normal;">(Adélia Prado) </span><br />
</b></span><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-40696362628015066962009-09-28T13:49:00.000-07:002009-09-28T13:49:26.892-07:00O amor por entre o verde<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikURvOAeve2PKVYvRjzruO5pptP-HBBIlJfmMaRIoyC3dGgbsfAtHZ53DmRevNf_MRFynB1QGRssgOHMEGpw88qXa0zyc6uMK1ua3tRjzHfMly5F0YvVt_yLQjra0EZAol-KZH77052meh/s1600-h/cavalos-7317.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikURvOAeve2PKVYvRjzruO5pptP-HBBIlJfmMaRIoyC3dGgbsfAtHZ53DmRevNf_MRFynB1QGRssgOHMEGpw88qXa0zyc6uMK1ua3tRjzHfMly5F0YvVt_yLQjra0EZAol-KZH77052meh/s400/cavalos-7317.jpg" /></a><br />
</div><br />
<br />
<br />
Não é sem frequência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um casalzinho de brotos que vem namorar sobre a pequenina ponte de balaustrada branca que há no parque. Ela é uma menina de uns treze anos, o corpo elástico metido num blue jeans e um suéter folgadão, os cabelos puxados para trás num rabinho-de- cavalo que está sempre a balançar para todos os lados; ele, um garoto de, no máximo, dezesseis, esguio, com pastas de cabelo a lhe tombar sobre a testa e um ar de quem descobriu a fórmula da vida.<br />
<br />
Uma coisa eu lhes asseguro: eles são lindos e ficam montados um em frente ao outro, no corrimão da colunata, os joelhos a se tocarem, os rostos a se buscarem a todo momento para pequenos segredos, pequenos carinhos, pequenos beijos. São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espapaçam sua verde sombra; e as momices e brincadeiras que se fazem daria para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam.<br />
<br />
Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar-lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos mímicos com que se entretêm, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passa à sua volta. Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno, numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a prescrutar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre a fronte do namorado, para vê-lo melhor e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração. De repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até ela dizer-lhe o que ele quer ouvir, e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando nao há passantes, num longo e meticuloso beijo.<br />
<br />
- Que será – pergunto-me eu em vão – dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bocas, de outras mãos, de outros ombros? Quem sabe se amanhã quando eu chegar à janela, não verei um rapazinho moreno em lugar do louro ou uma menina com a cabeleira solta em lugar dessa com cabelos presos?<br />
<br />
– E se prosseguirem se amando – pergunto-me novamente em vão – será que um dia se casarão e serão felizes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se darão um grande abraço de ternura? Ou será que se desviarão o olhar, para pensar cada um consigo mesmo que ele não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado?<br />
<br />
É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado… Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que frequentemente aquela que deveria ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e nâo se reconheceram.<br />
<br />
E é então que esqueço tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaríamos que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos, mirando muito além das estrelas.<br />
<br />
<br />
(Vinícius de Moraes)<br />
<br />
<br />
Imagem: <a href="http://fotos.imagensporfavor.com/img/pics/glitters/c/cavalos-7317.jpg">DAQUI</a><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-82110157205572244962009-09-27T15:51:00.000-07:002009-09-27T15:55:06.320-07:00O menino que carregava água na peneira<h3 class="post-title" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;"><br />
</span> </h3><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: small;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4rk5vMcMSoOdm2HxjCa1jzR46OaUpLc_jw2YOT3nHnLpgqzFDGT5h4f0JyEYNAHHSQ3e-26LC_4TKOAGI80rStdKNp0sewxENrWCttUwu7FJwIjN08_rjlWuV5244tu4sgxzc_RbQRHQ/s1600/1000imagens.aspx.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4rk5vMcMSoOdm2HxjCa1jzR46OaUpLc_jw2YOT3nHnLpgqzFDGT5h4f0JyEYNAHHSQ3e-26LC_4TKOAGI80rStdKNp0sewxENrWCttUwu7FJwIjN08_rjlWuV5244tu4sgxzc_RbQRHQ/s320/1000imagens.aspx.jpg" /></a></span><br />
</div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: small;"> <br />
Tenho um livro sobre águas e meninos.<br />
Gostei mais de um menino<br />
que carregava água na peneira.<br />
<br />
A mãe disse que carregar água na peneira<br />
era o mesmo que roubar um vento e sair<br />
correndo com ele para mostrar aos irmãos.<br />
<br />
A mãe disse que era o mesmo que<br />
catar espinhos na água.<br />
O mesmo que criar peixes no bolso.<br />
Tenho um livro sobre águas e meninos.<br />
Gostei mais de um menino<br />
que carregava água na peneira.<br />
<br />
A mãe disse que carregar água na peneira<br />
era o mesmo que roubar um vento e sair<br />
correndo com ele para mostrar aos irmãos.<br />
<br />
A mãe disse que era o mesmo que<br />
catar espinhos na água.<br />
O mesmo que criar peixes no bolso.<br />
<br />
O menino era ligado em despropósitos.<br />
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.<br />
<br />
A mãe reparou que o menino<br />
gostava mais do vazio<br />
do que do cheio.<br />
Falava que vazios são maiores<br />
e até infinitos.<br />
<br />
Com o tempo aquele menino<br />
que era cismado e esquisito<br />
porque gostava de carregar água na peneira.<br />
<br />
Com o tempo descobriu que escrever seria<br />
o mesmo que carregar água na peneira.<br />
<br />
No escrever o menino viu<br />
que era capaz de ser<br />
noviça, monge ou mendigo<br />
ao mesmo tempo.<br />
<br />
O menino aprendeu a usar as palavras.<br />
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.<br />
E começou a fazer peraltagens.<br />
<br />
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.<br />
<br />
o menino fazia prodígos.<br />
Até fez uma pedra dar flor!<br />
A mãe reparava o menino com ternura.<br />
<br />
A mãe falou:<br />
Meu filho você vai ser poeta.<br />
Você vai carregar água na peneira a vida toda.<br />
Você vai encher os<br />
vazios com as suas<br />
peraltagens<br />
e algumas pessoas<br />
vão te amar por seus<br />
despropósitos.<br />
<br />
<br />
<br />
* Imagem: Rúbem de Almeida<span style="font-family: lucida grande; font-size: 130%; font-style: italic;"> <br />
</span></span> <br />
</div><div style="text-align: left;"><br />
</div><div style="text-align: left;"><br />
</div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: lucida grande; font-size: large;"><br />
<span style="font-size: 78%;"><a href="http://manoeldebarros.blogspot.com/2008/08/o-menino-que-carregava-gua-na-peneira.html"></a></span></span><br />
</div><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-34876249986437300172009-09-27T15:47:00.000-07:002009-09-27T15:47:41.951-07:00No descomeço era o verbo<h2><br />
</h2><cite><a href="http://blog.sitedepoesias.com.br/poetas/manoel-de-barros/" rel="tag"></a><br />
</cite> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLK_DTxg5p8MeCv0EtY-59Qfnmlmz64pcSUnl5eH4Nnd44NRimu6gUJM2qzZ177rJ0u97akUlL7UJbF6hoSHMXFglk1rbgyJZMd9ukl6wSHySK88bawqhFpQxSZZ6apmmIYJdBHIwg9FXQ/s1600-h/manoel1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLK_DTxg5p8MeCv0EtY-59Qfnmlmz64pcSUnl5eH4Nnd44NRimu6gUJM2qzZ177rJ0u97akUlL7UJbF6hoSHMXFglk1rbgyJZMd9ukl6wSHySK88bawqhFpQxSZZ6apmmIYJdBHIwg9FXQ/s320/manoel1.jpg" /></a><br />
</div><br />
<br />
No descomeço era o verbo.<br />
Só depois é que veio o delírio do verbo.<br />
O delírio do verbo estava no começo, lá, onde a criança diz:<br />
eu escuto a cor dos passarinhos.<br />
A criança não sabe que o verbo escutar não<br />
Funciona para cor, mas para som.<br />
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.<br />
E pois.<br />
Em poesia que é voz de poeta,<br />
que é a voz<br />
De fazer nascimentos -<br />
O verbo tem que pegar delírio.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
(Manoel de Barros)<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-89547033195461448422009-09-27T15:38:00.000-07:002009-09-27T15:40:05.848-07:00Retrato do Poeta Quando Jovem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRWILr4TTCZ1PixRBggy0yOfVOpWF9OJ9b4b62zFM2TlMjHhgp7hTgnud4zyX3wWN5J79HqPZHGn-LaQhouzY7iz8SbBGPquV-jt7wXgnWh5uB8DO3UCNauxvhSECC_pA6ccaUkKfPEXwg/s1600-h/beautiful-photography02%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRWILr4TTCZ1PixRBggy0yOfVOpWF9OJ9b4b62zFM2TlMjHhgp7hTgnud4zyX3wWN5J79HqPZHGn-LaQhouzY7iz8SbBGPquV-jt7wXgnWh5uB8DO3UCNauxvhSECC_pA6ccaUkKfPEXwg/s320/beautiful-photography02%5B1%5D.jpg" /></a><br />
</div><h2> *</h2><cite> </cite> Há na memória um rio onde navegam<br />
Os barcos da infância, em arcadas<br />
De ramos inquietos que despregam<br />
Sobre as águas as folhas recurvadas.<br />
<br />
Há um bater de remos compassado<br />
No silêncio da lisa madrugada,<br />
Ondas brancas se afastam para o lado<br />
Com o rumor da seda amarrotada.<br />
<br />
Há um nascer do sol no sítio exacto,<br />
À hora que mais conta duma vida,<br />
Um acordar dos olhos e do tacto,<br />
Um ansiar de sede inextinguida.<br />
<br />
Há um retrato de água e de quebranto<br />
Que do fundo rompeu desta memória,<br />
E tudo quanto é rio abre no canto<br />
Que conta do retrato a velha história.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
(José Saramago) <br />
<br />
<br />
Imagem: <a href="http://www.textolivre.com.br/poemas/3762-sou-barco-solitario">DAQUI</a><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-18125241698354925932008-11-28T08:49:00.000-08:002008-11-28T08:52:00.392-08:00Apagar-me<span style="color:#000000;">.</span><br /><span style="color:#000000;">.</span><br /><span style="color:#000000;">.</span><br /><span style="color:#000000;">.</span><br />apagar-me<br />diluir-me<br />desmanchar-me<br />até que depois<br />de mim<br />de nós<br />de tudo<br />não reste mais<br />que o charme<br /><br />p. leminski<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>ofilhodoblueshttp://www.blogger.com/profile/00079744155861825711noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-82326892022515803292008-10-15T07:22:00.000-07:002008-10-15T07:23:26.828-07:00Casamento<table border="0" cellpadding="3" cellspacing="0"><tbody>
<tr><td><strong class="text"><br />
</strong></td> </tr>
<tr> <td height="6"><br />
</td> </tr>
<tr> <td class="fundo_pp"><table border="0" cellpadding="4" cellspacing="0"><tbody>
<tr> <td><img align="right" class="fotos" src="http://prometo.com.br/_blog/b00000002879.jpg" style="margin-left: 10px;" /><span class="text">*<br />
<br />
Há mulheres que dizem:<br />
Meu marido, se quiser pescar, pesque,<br />
mas que limpe os peixes.<br />
Eu não.<br />
A qualquer hora da noite me levanto,<br />
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.<br />
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,<br />
de vez em quando os cotovelos se esbarram,<br />
ele fala coisas como 'este foi difícil'<br />
'prateou no ar dando rabanadas'<br />
e faz o gesto com a mão.<br />
<br />
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez <br />
atravessa a cozinha como um rio profundo.<br />
Por fim, os peixes na travessa,<br />
vamos dormir.<br />
<br />
Coisas prateadas espocam:<br />
somos noivo e noiva.<br />
<br />
<br />
Texto extraído do livro 'Adélia Prado - Poesia Reunida', Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.</span></td></tr>
</tbody></table></td></tr>
</tbody></table><div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-52773616682423328612008-10-02T20:09:00.000-07:002009-09-27T15:42:09.515-07:00Ausência<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJd51pwluAM9hUnpcV4BtQnQqFI_P1zwjSdjGja5bRskODO1V5DhbnIsF2Cw3VxQv1AaqAn9iKfwB2C_73J9vT50k01WbVUybWEk5uqUfS83irNwDkl4gz43-ne6s7x9pTJHaDxiR6i1B0/s1600-h/rosa-5204.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgudQd42dCDd2aYIB90b8sAGN8iqtk5Q3efNgwZtUO5WT-cBXu6tsvcmyJa3qkIVIU1y4TOvnxr5dnNvIkhGgR2u5jWdUWvqNCX3x8N0rtkXTXWEhXX9TvaN1v8p_nQS1YPmeDHqPwC98vr/s320-r/rosa-5204.jpg" /></a><br />
</div><br />
Apenas se te deixar<br />
venhas até mim, <br />
cristalina ou temerosa<br />
inquieta, ferida por mim mesmo<br />
ou satisfeita de amor, como quando teus olhos<br />
se fecham sobre o dom da vida<br />
que sem parar, te entrego<br />
<br />
amor meu,<br />
nos encontramos<br />
sedentos e nos bebemos <br />
toda água e sangue.<br />
Nos encontramos <br />
com fome<br />
e nos mordemos<br />
como o fogo morde<br />
deixando-nos feridas;<br />
<br />
Porém, espera-me<br />
guarda-me a tua doçura.<br />
<br />
Eu te darei também uma rosa.<br />
<br />
<br />
(Pablo Neruda)<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-58603467198650261282008-10-02T19:24:00.000-07:002008-10-02T19:26:09.421-07:00Por ti<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYQ4B7AhBKW0m7b-Jb1M-TCSYxmNNbVJTBSl0j08g_XhZZNnrfphyTNTIFET7uNZ6Ngun4c3p1ck30eotp2k_Nxgwjnx2s3yYB3UCByvRYhgalA4O4VesO76PNaKxoOkZfnGCzBQIWMKgY/s1600-h/tristezaII.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyEzMr5dibSZEvVkkI4vNj9hdykx8qMbQXK2mJ2ssav2896Q76VWX1dZWEGcFP62JbZN1Hk_8k3zhFjxU6SDCjjN1_zKFqohcmV-hKRNA6dzuA3LrIAVbG5oZOP6vI8IQ909cH4dPgWQ0R/s320-r/tristezaII.jpg" /></a></div><br />
<br />
Por ti junto aos jardins cheios de flores novas me doem<br />
os perfumes da primavera.<br />
Esqueci o teu rosto, não me lembro de tuas mãos,<br />
como beijavam os teus lábios?<br />
<br />
Por ti amo as brancas estátuas adormecidas nos parques,<br />
as brancas estátuas que não têm voz nem olhar.<br />
Esqueci tua voz, tua voz alegre, me esqueci dos teus olhos.<br />
Como uma flor a seu perfume, estou atado à tua lembrança imprecisa.<br />
<br />
Estou perto da dor como uma ferida, se me tocas me farás um dano irremediável.<br />
Não me lembro mais do teu amor e no entanto te adivinho atrás de todas as janelas.<br />
<br />
Por ti me doem os pesados perfumes do estio: por ti volto a espreitar<br />
os signos que precipitam os desejos, as estrelas em fuga, os objetos que caem.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Pablo Neruda<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-58135721647754684542008-09-28T12:57:00.000-07:002008-09-28T13:03:20.648-07:00Homem Comum<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://saladadeescarola.files.wordpress.com/2008/06/picture-6.png?w=490&h=322"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px;" src="http://saladadeescarola.files.wordpress.com/2008/06/picture-6.png?w=490&h=322" alt="" border="0" /></a><br /><br /><br />"Sou um homem comum<br />de carne e de memória<br />de osso e esquecimento.<br />e a vida sopra dentro de mim<br />pânica<br />feito a chama de um maçarico<br />e pode<br />subitamente<br />cessar.<br /><br />Sou como você<br />feito de coisas lembradas<br />e esquecidas<br />rostos e<br />mãos, o quarda-sol vermelho ao meio-dia<br />em Pastos-Bons<br />defuntas alegrias flores passarinhos<br />facho de tarde luminosa<br />nomes que já nem sei<br />bandejas bandeiras bananeiras<br />tudo<br />misturado<br />essa lenha perfumada<br />que se acende<br />e me faz caminhar<br />Sou um homem comum<br />brasileiro, maior, casado, reservista,<br />e não vejo na vida, amigo,<br />nenhum sentido, senão<br />lutarmos juntos por um mundo melhor.<br />Poeta fui de rápido destino.<br />Mas a poesia é rara e não comove<br />nem move o pau-de-arara.<br />Quero, por isso, falar com você,<br />de homem para homem,<br />apoiar-me em você<br />oferecer-lhe o meu braço<br />que o tempo é pouco<br />e o latifúndio está aí, matando.<br /><br />Que o tempo é pouco<br />e aí estão o Chase Bank,<br />a IT & T, a Bond and Share,<br />a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,<br />e sabe-se lá quantos outros<br />braços do polvo a nos sugar a vida<br />e a bolsa<br />Homem comum, igual<br />a você,<br />cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo.<br />A sombra do latifúndio<br />mancha a paisagem<br />turva as águas do mar<br />e a infância nos volta<br />à boca, amarga,<br />suja de lama e de fome.<br /><br />Mas somos muitos milhões de homens<br />comuns<br />e podemos formar uma muralha<br />com nossos corpos de sonho e margaridas".<br /><br />(Brasília, 1963 - Ferreira Gullar)<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-26619363395121187422008-09-16T19:12:00.000-07:002008-09-16T19:42:30.159-07:00Soneto LXVI<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.fotogenico.net/fotogenico/modules/xcgal/albums/userpics/10015/Ranascer%20de%20um%20novo%20dia.%28olhares%29...jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px;" src="http://www.fotogenico.net/fotogenico/modules/xcgal/albums/userpics/10015/Ranascer%20de%20um%20novo%20dia.%28olhares%29...jpg" alt="" border="0" /></a><br /><br /><br /><br />Por que meu verso é sempre tão carente<br />De mutações e variação de temas?<br />Por que não olho as coisas do presente<br />Atrás de outras receitas e sistemas?<br /><br />Por que só escrevo essa monotonia<br />Tão incapaz de produzir inventos<br />Que cada verso quase denuncia<br />Meu nome e seu lugar de nascimento?<br /><br />Pois saiba, amor, só escrevo a seu respeito<br />E sobre o amor, são meus únicos temas.<br />E assim vou refazendo o que foi feito,<br /><br />Reinventando as palavras do poema.<br />Como o sol, novo e velho a cada dia,<br />O meu amor rediz o que dizia.<br /><br /><br />(William Shakespeare)<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-28138341118505884682008-09-13T07:22:00.000-07:002008-09-13T07:29:02.955-07:00Soneto 17 ~<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYERzokks5gVqF1L854p7XH5JzkJl6I_-d6IWu9EFKoBxDQeggvix0RmZoTXWNH-RIgB_SgsjD7Qk0z5dn1013XrPC9i4EkP3L0UmanKjFF_uWw5wHVuEoyJv4stI-93zXeu3jjYrQiPfv/s1600-h/casa+do+campo.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 233px; height: 264px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYERzokks5gVqF1L854p7XH5JzkJl6I_-d6IWu9EFKoBxDQeggvix0RmZoTXWNH-RIgB_SgsjD7Qk0z5dn1013XrPC9i4EkP3L0UmanKjFF_uWw5wHVuEoyJv4stI-93zXeu3jjYrQiPfv/s320/casa+do+campo.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5245512692870143858" border="0" /></a><br /><br />Se te comparo a um dia de verão<br />És por certo mais belo e mais ameno<br />O vento espalha as folhas pelo chão<br />E o tempo do verão é bem pequeno.<br /><br />Às vezes brilha o Sol em demasia<br />Outras vezes desmaia com frieza;<br />O que é belo declina num só dia,<br />Na terna mutação da natureza.<br /><br />Mas em ti o verão será eterno,<br />E a beleza que tens não perderás;<br />Nem chegarás da morte ao triste inverno:<br /><br />Nestas linhas com o tempo crescerás.<br />E enquanto nesta terra houver um ser,<br />Meus versos vivos te farão viver.<br /><br />(William Shakespeare )<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7737608087484088148.post-55137799007047226332008-09-05T13:53:00.000-07:002008-09-05T14:00:44.935-07:00Retrato imperfeito<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga0wLzkmsm-y78lYfg9Esz5pfaJul0D4did19-zvC9CMgAt5npBFPn61q3F23eCmsNFM2UhoX2RgxQ-WWqYtP8kGomBPsdCjI2JvwjTtbNgA8FKWAY3lgDUxaLLlnuFSLjx73ajhG7Ydfa/s1600-h/1+ano+de+namoro+045.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga0wLzkmsm-y78lYfg9Esz5pfaJul0D4did19-zvC9CMgAt5npBFPn61q3F23eCmsNFM2UhoX2RgxQ-WWqYtP8kGomBPsdCjI2JvwjTtbNgA8FKWAY3lgDUxaLLlnuFSLjx73ajhG7Ydfa/s320/1+ano+de+namoro+045.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5242645032270847522" border="0" /></a><br />De tanto lembrar me esqueço<br />e é de sonhos que construo<br />o que vivo e busco e mereço.<br />E assim recordo<br />do recordar a lembrança<br />num tempo em que criança<br />fui o que hoje sou cópia:<br />retrato velho e imperfeito<br />de quem quebrou todos os brinquedos.<br /><br /><br />(Maximiano Campos)<div class="blogger-post-footer">Blog "Repouso da alma" - "...Se dirá que as estrelas gargalham, E no entanto o universo está surdo. " (Boris Pasternak)</div>Jessiely Soareshttp://www.blogger.com/profile/00623547869737804448noreply@blogger.com1