domingo, 28 de setembro de 2008
Homem Comum
"Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos, o quarda-sol vermelho ao meio-dia
em Pastos-Bons
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que já nem sei
bandejas bandeiras bananeiras
tudo
misturado
essa lenha perfumada
que se acende
e me faz caminhar
Sou um homem comum
brasileiro, maior, casado, reservista,
e não vejo na vida, amigo,
nenhum sentido, senão
lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rápido destino.
Mas a poesia é rara e não comove
nem move o pau-de-arara.
Quero, por isso, falar com você,
de homem para homem,
apoiar-me em você
oferecer-lhe o meu braço
que o tempo é pouco
e o latifúndio está aí, matando.
Que o tempo é pouco
e aí estão o Chase Bank,
a IT & T, a Bond and Share,
a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton,
e sabe-se lá quantos outros
braços do polvo a nos sugar a vida
e a bolsa
Homem comum, igual
a você,
cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo.
A sombra do latifúndio
mancha a paisagem
turva as águas do mar
e a infância nos volta
à boca, amarga,
suja de lama e de fome.
Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonho e margaridas".
(Brasília, 1963 - Ferreira Gullar)
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Soneto LXVI
Por que meu verso é sempre tão carente
De mutações e variação de temas?
Por que não olho as coisas do presente
Atrás de outras receitas e sistemas?
Por que só escrevo essa monotonia
Tão incapaz de produzir inventos
Que cada verso quase denuncia
Meu nome e seu lugar de nascimento?
Pois saiba, amor, só escrevo a seu respeito
E sobre o amor, são meus únicos temas.
E assim vou refazendo o que foi feito,
Reinventando as palavras do poema.
Como o sol, novo e velho a cada dia,
O meu amor rediz o que dizia.
(William Shakespeare)
sábado, 13 de setembro de 2008
Soneto 17 ~
Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.
Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.
Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
(William Shakespeare )
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Retrato imperfeito
Apelo ao Quixote
Não deixes que a tua
armadura enferruje.
Principalmente no peito,
que é perto do coração.
Segura a espada,
larga o escudo,
pois medo não é proteção.
Permite que o sol bata na poeira
e o vento leve o sujo
do aço que te cobre.
Na loucura, só na loucura,
estarás liberto. O teu mito
é sol, liberdade e céu aberto.
(Maximiano Campos)
O filho
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Melancolia
a história da melancolia
inclui todos nós.
eu, eu escrevo em lençóis sujos
enquanto olho para paredes azuis
e nada.
eu já me acostumei tanto com a melancolia
que
eu a recebo como uma velha
amiga.
eu terei agora15 minutos de aflição
pela ruiva perdida,
eu digo aos deuses.
eu faço isso e me sinto bastante mal
bastante triste
então eu levanto
LIMPO
apesar de que nada
está resolvido.
isso é o que eu ganho por chutar
a religião na bunda.
eu deveria ter chutado a ruiva
na bunda
onde o cérebro e o pão e
a manteiga dela
estão...
mas, não, eu me senti triste
por tudo:
a ruiva perdida foi apenas outro
rompimento em uma vida
de perdas...
eu ouço a bateria no rádio agora
e sorrio.
há alguma coisa errada comigo
alem
da melancolia.
Charles Bukowski
inclui todos nós.
eu, eu escrevo em lençóis sujos
enquanto olho para paredes azuis
e nada.
eu já me acostumei tanto com a melancolia
que
eu a recebo como uma velha
amiga.
eu terei agora15 minutos de aflição
pela ruiva perdida,
eu digo aos deuses.
eu faço isso e me sinto bastante mal
bastante triste
então eu levanto
LIMPO
apesar de que nada
está resolvido.
isso é o que eu ganho por chutar
a religião na bunda.
eu deveria ter chutado a ruiva
na bunda
onde o cérebro e o pão e
a manteiga dela
estão...
mas, não, eu me senti triste
por tudo:
a ruiva perdida foi apenas outro
rompimento em uma vida
de perdas...
eu ouço a bateria no rádio agora
e sorrio.
há alguma coisa errada comigo
alem
da melancolia.
Charles Bukowski
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