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segunda-feira, 14 de abril de 2008


Eu ia, os punhos nos meus bolsos furados;
Meu paletó também se tornava ideal;
Ia sob o céu, Musa! eu te era leal;
Oh! lá lá! quantos esplêndidos amores foram sonhados!

Minhas únicas calças tinham um largo remendo.
— Pequeno-Polegar sonhador, semeava na minha corrida
Rimas. A Ursa Maior me dava a acolhida.
— Minhas estrelas no céu sussurravam tremendo.

E eu as escutava, sentado à beira das estradas,
Nestas boas noites de setembro sentia gotas amadas
De orvalho na minha fronte, como de um vinho a canção;

Onde, rimando entre vultos fantásticos,
Como liras, eu puxava os elásticos
De meus sapatos feridos, um pé perto do meu coração!

Arthur Rimbaud

sábado, 5 de abril de 2008

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Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Arthur Rimbaud

Canção da Torre Mais Alta




Mocidade presa
A tudo oprimida
Por delicadeza
Eu perdi a vida.
Ah! Que o tempo venha
Em que a alma se empenha.

Eu me disse: cessa,
Que ninguém te veja:
E sem a promessa
De algum bem que seja.
A ti só aspiro
Augusto retiro.

Tamanha paciência
Não me hei de esquecer.
Temor e dolência,
Aos céus fiz erguer.
E esta sede estranha
A ofuscar-me a entranha.

Qual o Prado imenso
Condenado a olvido,
Que cresce florido
De joio e de incenso
Ao feroz zunzum das
Moscas imundas.




(Arthur Rimbaud)