quinta-feira, 27 de março de 2008

O Amor





Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa,

Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.

Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.

Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em enumeráveis noites de estrelas.

Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!


Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!

Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!

Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.

Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.

Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.

E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!

Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casa.

Para que doravante
a família seja o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.


(Maiakóvski)

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