segunda-feira, 12 de maio de 2008

Não Há Vagas


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
...está fechado:
..."não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

............O poema, senhores,
............não fede
............nem cheira

Ferreira Gullar

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