quinta-feira, 19 de junho de 2008

9 Poemetos


I

É quando a vida vase
É quando como quase.
Ou não, quem sabe.


II

Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,

a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.

III

O paulo leminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhadaputa
de fazer chover
em nosso piquenique

IV

Manchete

Chutes de poeta
Não levam perigo à meta

V



apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo

não reste mais
que o charme

VI

uma carta uma brasa através
por dentro do texto
nuvem cheia da minha chuva
cruza o deserto por mim
a montanha caminha
o mar entre os dois
uma sílaba um soluço
um sim um não um ai
sinais dizendo nós
quando não estamos mais


VII

Pariso
Novayorquizo
moscoviteio
sem sair do bar
só não levanto e vou embora
porque tem países
que eu nem chego a madagascar


VIII

nunca quis ser freguês distinto
pedindo isso e aquilo
vinho tinto
vinho tinto
obrigado
hasta la vista

queria entrar
com os dois pés
no peito dos porteiros
dizendo pro espelho
- cala a boca
e pro relógio
abaixe os ponteiros

IX

nem toda hora
é obra
nem toda obra
é prima
algumas são mães
outras irmãs
algumas
clima





(Paulo Leminski)

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