domingo, 8 de junho de 2008
Eu luminoso não sou.
Eu luminoso não sou.
Nem sei que haja
Um poço mais remoto,
e habitado
De cegas criaturas,
de histórias e assombros.
Se, no fundo poço,
que é o mundo
Secreto e intratável
das águas interiores,
Uma roda de céu
ondulando se alarga,
Digamos que é o mar:
como o rápido canto
Ou apenas o eco,
desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas.
O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água
dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar,
as aves se recolhem.
(José Saramago)
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