terça-feira, 29 de abril de 2008

Barcos de Papel


Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada
eu saía a brincar pela calçada
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia de papel toda uma armada:
e estendendo o meu braço pequenino
eu soltava os barquinhos sem destino
ao longo das sarjetas na enxurrada...

Fiquei moço. E hoje sei pensando neles
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel tal como aqueles

perfeitamente exatamente iguais...
- Que os meus barquinhos lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!


Guilherme de Almeida

Um comentário:

Tela Samoacir disse...

"Barcos de Papel" arremessa-me a uma adolescencia tranqüila tão distante e ao mesmo tempo tão presente. São tão profundas as linhas que compôem o poema que chegam a marejar meus olhos. Parecem mesmo feitos para mim, e curiosamente, li a primeira vez aos 14 anos em sala de aula, e desde então jamais esqueci cada frase, tamanha sua profundidade em minh'alma.
Moacir