A atmosfera que te envolve
atinge tais atmosferas
que transforma muitas coisas
que te concernem, ou cercam.
E como as coisas, palavras
impossíveis de poema:
exemplo, a palavra ouro,
e até este poema, seda.
É certo que tua pessoa
não faz dormir, mas desperta;
nem é sedante, palavra
derivada da de seda.
E é certo que a superfície
de tua pessoa externa,
de tua pele e de tudo
isso que em ti se tateia,
nada tem da superfície
luxuosa, falsa, acadêmica,
de uma superfície quando
se diz que ela é “como seda”.
Mas em ti, em algum ponto,
talvez fora de ti mesma,
talvez mesmo no ambiente
que retesas quando chegas,
há algo de muscular,
de animal, carnal, pantera,
de felino, da substância
felina, ou sua maneira,
de animal, de animalmente,
de cru, de cruel, de crueza,
que sob a palavra gasta
persiste na coisa seda.
.
João Cabral de Melo Neto
Um comentário:
Sabe....acho que fiz algo sem pensar: saquei-lhe esta imagem para o meu blog, na busca que vinha fazendo. E até costumo enunciar o autor, mas não vejo qual é.
Se estiver contra, avise-me!
Mas vejo que têm imensos poetas a quem vão buscar inspiração, entre eles alguns portugueses:)
Gosto muito deste blog, sente-se uma boa dinâmica e interacção com os convidados.
Eu não sou nenhuma expert em questão de blogues, em tempos fazia, mas agora é mesmo para trabalhar.
Abraços a ambos:))))
Vera
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