quarta-feira, 16 de abril de 2008
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Quinze dias ainda e mais de seis semanas
já se foram! No ror das angústias humanas,
a angústia mais cruel é viver separado!
Trocam-se as expressões de um amor dedicado,
sempre evocando o olhar, os gestos e a voz pura
daquela, cujo amor faz a nossa ventura.
Fica-se a conversar com o espírito da ausente;
mas tudo o que se pensa e tudo o que se sente,
e o que se fala à ausente, enfim, tudo, persiste
num tom de palidez imutável e triste.
Oh! a ausência fatal! a suprema desdita!
E a gente ver consolo em uma frase escrita...
Ir buscar, no infinito horror do pensamento,
com que vos levantar, sonhos, do abatimento,
porém, nada trazer que a amargo não resume!
E depois, como um frio e penetrante gume,
sulcando mais veloz que uma bala violenta,
ou que as aves cortando um marouço em tormenta,
e trazendo um veneno à ponta de uma lança,
eis que o peito nos flecha a horrível Desconfiança,
arrojada por uma estúpida Incerteza!
Não é isso mesmo? Enquanto eu, apoiado à mesa,
vou lendo a sua carta (e o pranto já começa),
doce carta em que vem uma doce promessa,
ela não estará noutras cousas pensando?
Quem sabe? Enquanto eu vou neste exílio rolando,
como um rio tristonho e de margem sombria,
o seu lábio, talvez, inocente sorria?
Talvez ela me esqueça ou viva mais contente?
E eu a carta reli, melancolicamente.
Paul Verlaine
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